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Venezuela rebelde III

O terrorismo de estado dos ianques gira para seu “quintal”: a América Latina

O presidente Donald Trump estipulou uma recompensa de US$ 50 milhões de dólares para quem der informações que levem à prisão do presidente Nicolás Maduro. Maduro é tratado como narcotraficante e “um presidente ilegítimo” de um regime “narcoterrorista”. Essa política foi seguida por uma ordem de colocar o plano de ação, que promete “toda a força” contra a Venezuela, com o envio de navios de guerra, contratorpedeiros de mísseis guiados e três navios anfíbios com 4.500 militares, para a região do Caribe.

Em 1999, os EUA do democrata Bill Clinton assinaram um acordo com o governo reacionário de Andrés Pastrana, da Colômbia, com a justificativa de combater o conflito armado e o tráfico de cocaína. Esse acordo ficou conhecido como o Plano Colômbia, que afirmava que acabaria com as plantações de coca na região e estabilizaria o país, fortalecendo o exército colombiano. Essa ingerência vinha com um pacote de instalação de bases militares estadunidenses em território colombiano. Na verdade, era mais um ataque à soberania da nação vizinha, com total cumplicidade das oligarquias locais. Com a eleição de Álvaro Uribe em 2002, o Plano Colômbia ganhou outra conotação, também financiado pelos EUA e a União Europeia. Agora, as forças armadas e as forças de segurança iriam tratar os conflitos internos como uma guerra contra o terrorismo. A ação de repressão contra as guerrilhas foi tratada por Uribe como a repressão contra os “narcoterroristas”.

Os EUA não brincam quando se trata de impor seus interesses econômicos e financeiros. Por isso, instalaram bases militares por todo o globo: são mais de 750 bases atualmente. Na América Latina, suas bases somam 76.

A Bolívia tem reservas comprovadas de 23 milhões de toneladas de lítio, minério estratégico para fabricação de baterias elétricas e inúmeras outras tecnologias de transição energética. As empresas selecionadas para extrair o minério são ligadas à Rússia e à China. É importante resgatar a declaração feita pela General Laura Richardson na Embaixada dos EUA no Brasil. A Chefe do Comando Sul dos EUA entre 2021 e 2024 uma vez disse: “Essa região é tão rica em recursos. É uma riqueza acima da média. Eles têm muito do que se orgulhar. E os nossos concorrentes e adversários também sabem o quão rica de recursos essa região é. 60% do lítio do mundo fica na região. Tem petróleo bruto pesado, petróleo doce leve, tem metais de terras raras, tem a Amazônia, que é chamada de pulmão do mundo [sic], 31% de toda a água doce do mundo está aqui nessa região. E os nossos adversários estão se aproveitando dessa região. Todos os dias, bem aqui na nossa vizinhança. E eu observo que o que acontece nessa região, em termos de segurança, tem impacto na nossa segurança, na segurança nacional, para a segurança interna e para os EUA.”

Em 2020, o bilionário Elon Musk postou em sua rede social X: “Daremos um golpe em quem quisermos”. Sua declaração estava direcionada à Bolívia, mas não só, pois é uma das nações sul-americanas do triângulo do Lítio (Bolívia, Chile e Argentina). Depois de 5 anos, Evo Morales foi impedido de concorrer à Presidência da República, e foram para o segundo turno das eleições dois candidatos, um da direita e outro da extrema direita.

Para o Brasil, os EUA também têm suas receitas de “democracia”. Logo depois da reunião da 17a Cúpula do BRICS, que aconteceu em julho de 2025 no Rio de Janeiro, Donald Trump anunciou a imposição de tarifas de 50% para todos produtos importados do Brasil, alegando que o Supremo Tribunal Federal tem que parar de perseguir o ex-presidente Jair Bolsonaro e conceder anistia para os envolvidos na tentativa de golpe do 8 de janeiro de 2023. À primeira vista, parece que os EUA estão preocupados com os destinos de Bolsonaro, mas é evidente que as preocupações são maiores e mais estratégicas em relação a seu “quintal”.

Foto: Reprodução / Milícias Bolivarianas

A aproximação do Brasil com o Sul Global e a determinação de seguir fortalecendo as relações com o BRICS, compromissados com o multilateralismo e principalmente com o objetivo de desdolarizar as relações comerciais e financeiras entre os países, fez com que os EUA dessem um urro de fera ferida. Na tentativa de aprofundar a crise política e das instituições do Estado brasileiro, Trump ultrapassa as fronteiras da soberania das nações e do direito internacional e aplica a Lei Magnitsky, contra o Ministro Alexandre de Moraes e outras personalidades brasileiras que se opõem à interferência dos EUA em assuntos internos do Brasil. Salientamos que essa lei é da legislação dos Estados Unidos, formulada contra indivíduos e entidades envolvidas em corrupção ou violação de Direitos Humanos (tortura). Ela não é uma lei criada por organismos internacionais, como a ONU, muito menos foi criada para se intrometer em assuntos internos de outras nações, mas Trump segue chantageando o Governo Lula, para que o país se afaste do BRICS, não regulamente as Big Techs e não avance na política de negociar com nossa própria moeda.

Podemos concluir que as bases estadunidenses são ineficazes no combate aos cartéis de drogas, mas muito eficazes no ataque à soberania dos povos e no saque das riquezas da região.

Os EUA não brincam quando se trata de impor seus interesses econômicos e financeiros. Por isso, instalaram bases militares por todo o globo: são mais de 750 bases atualmente. Na América Latina, suas bases somam 76. Só na Colômbia, desde 1999, eles instalaram 9 bases com a justificativa de combater o “narcoterrorismo”. Mas o próprio DEA (Drug Enforcement Administration – órgão de repressão às drogas dos EUA) reconhece que o tráfico só aumenta. Podemos concluir que as bases estadunidenses são ineficazes no combate aos cartéis de drogas, mas muito eficazes no ataque à soberania dos povos e no saque das riquezas da região.

Levantamos alguns fatos desse último período que envolvem países da América do Sul, mas poderíamos enumerar muitos outros. De fato, o que queremos reafirmar é que, em primeiro lugar, os EUA não estão preocupados com a abstrata “democracia”, muito menos com um efetivo combate aos cartéis de drogas. Tudo que eles querem é seguir controlando e submetendo os países da região aos seus próprios interesses. Principalmente nessa etapa em que a economia daquele país se encontra, com perda de hegemonia, endividamento de mais de US$ 30 trilhões, uma crise social estupenda que joga milhões de estadunidenses na miséria, desemprego e falta de uma proteção social mínima por parte do Estado. Faz com que haja uma verdadeira epidemia de consumo e, consequentemente, mortes pelo abuso de drogas. Por outro lado, as oligarquias vinculadas ao capital financeiro, às Big Techs e ao complexo industrial-militar dos EUA ficam mais sedentas por lucros fáceis, mesmo que seja por meio de guerras, invasões e roubos. Esse é o verdadeiro motivo por trás da investida de Trump, contra Maduro, a Venezuela e toda a nossa região.

E, nesse sentido, fez muito bem o Governo de Nicolás Maduro em chamar o alistamento nos dias 23 e 24 de agosto em resposta às ameaças e provocações dos EUA. A Venezuela convocou as comunas, milícias bolivarianas, os conselhos comunitários e a juventude em todo o território nacional, para que o povo se una ao “Grande Plano Nacional de Soberania e Paz Simón Bolívar para a defesa da nação”. Na verdade, os presidentes da Venezuela e da Colômbia são os governos que mais entendem o papel dos EUA na desestabilização da região, para mudar governos e regimes, com objetivo de se apropriar das riquezas minerais e dos mercados, que por séculos foram cativos do imperialismo ianque e europeu. O próprio presidente da Colômbia, Gustavo Petro, já alertou que “estão usando o narcotráfico como desculpa para invasão militar”.

A Venezuela convocou as comunas, milícias bolivarianas, os conselhos comunitários e a juventude em todo o território nacional, para que o povo se una ao “Grande Plano Nacional de Soberania e Paz Simón Bolívar para a defesa da nação”.

Os EUA sabem que Cuba e, mais recentemente, a Venezuela são exemplos, ou “maus” exemplos, que precisam ser derrotados. Principalmente quando eles veem que seu “quintal” tem a possibilidade de fazer negócios com outras potências no Sul Global, como a China e a Rússia. O que está em jogo é a soberania territorial, econômica, tecnológica e alimentar dos povos latino-americanos.

O desafio da esquerda consequente é apresentar um projeto de nação, integrada no Cone Sul de forma soberana, sustentável na perspectiva de uma urgente transição energética, com investimento pesado em ciência e tecnologia. Que rompa os “acordos” de cooperação que interferem na soberania nacional dos países da região como, no caso brasileiro, a cessão da Base de Alcântara e o tratado de cooperação com o DEA, que estabelece “auxílio” na área de defesa, tráfico de entorpecentes e combate ao “terrorismo”. Além disso, devemos exigir que os EUA retirem suas bases militares do continente sul-americano.

Um projeto com essa ousadia precisa ter como estratégia a superação do capitalismo imperialista. Nesse sentido, apoiar a Venezuela contra a extrema direita autóctone, subordinada aos interesses imperialistas e apoiar sua integração aos BRICS é um passo fundamental de resistência ao imperialismo e ao neocolonialismo tecnológico que ameaçam a existência de nossas nações e da própria civilização.