Entrevista com Glauber Braga
Deputado Federal pelo PSOL/RJ
O ataque desferido pelo presidente norte-americano Donald Trump ao Brasil, com o tarifaço, abriu um novo momento na política brasileira. Como esse momento se reflete no Congresso Nacional?
Eu acho fundamental a gente nomear o ataque de Trump como aquilo que é. É um ataque imperialista ao Brasil, e ele conta com colaboradores brasileiros para esse ataque. Eduardo Bolsonaro é um deles, mas não é o único. Aqueles que tentaram sequestrar a Mesa Diretora fizeram essa ação em conexão com o que Eduardo Bolsonaro tem feito direto dos Estados Unidos. Então, isso se reflete no Congresso Nacional a partir do momento em que você tem agentes golpistas trabalhando diretamente para os interesses dos Estados Unidos aqui dentro. E essa turma tem que ser responsabilizada.
A obstrução das mesas da Câmara e Senado em favor da pauta da Anistia reflete a preocupação com o ex-presidente Bolsonaro ou com os ilícitos dos próprios parlamentares nas investigações sobre as emendas secretas, denunciadas por você?
Eu acho que o sequestro da Mesa tem uma relação direta com a ação dos golpistas. Evidentemente, a preocupação de deputados em relação à investigação sobre o orçamento secreto, sobre emendas, é grande. Agora, esses deputados que defendem Eduardo Bolsonaro e que defendem o ataque imperialista tocaram o sequestro da Mesa imaginando que, com isso, vão estar desestabilizando o Brasil para favorecer os interesses dos Estados Unidos. Isso é gravíssimo!
Você apresentou uma PEC pelo monopólio das Terras Raras no Brasil. Quais as possibilidades da aprovação dessa PEC em um Congresso reacionário, onde um setor da direita e da extrema-direita questiona a soberania dos Poderes da República, e o próprio governo dos EUA tenta ameaçar o Estado brasileiro?
Então, a apresentação da proposta serve como um mecanismo de mobilização, principalmente, para fora do Congresso. A partir do momento em que você tem um movimento social, um movimento popular cobrando dos congressistas a defesa da soberania, uma correlação de forças tão negativa passa a poder ser modificada.
É difícil a aprovação de uma PEC como essa, mas tudo a favor do povo é difícil de ser aprovado no Congresso Nacional se não tiver pressão popular.
Não é, de forma alguma, uma ilusão com a institucionalidade. É um instrumento para a mobilização do povo, porque é isso que tem condições de fazer com que esse cenário negativo possa ser revertido. E, combinado com isso, é uma oportunidade concreta de a gente tirar a bandeira do Brasil da mão dos golpistas. Ou a gente faz isso agora, ou não faz mais. Então, a apresentação da PEC tem também esse sentido: demonstrar quem defende a nossa soberania e quem é um lacaio do imperialismo, quem defende os interesses dos Estados Unidos no Brasil, mesmo exercendo o mandato de deputado federal escolhido por brasileiros.
No pós-guerra, o Brasil cresceu a índices chineses por décadas, baseados no monopólio do petróleo e na industrialização. Tiramos milhões da miséria, combatemos o analfabetismo, ampliamos o acesso a serviços e criamos uma forte rede universitária e centros de pesquisa. O monopólio das Terras Raras, devido à sua importância no processo de transição energética e na indústria de alta tecnologia, poderia ajudar a abrir uma nova etapa de desenvolvimento humano em nosso país, interrompido pelo golpe, neoliberalismo e o neofascismo?
Para além da garantia de direitos da população brasileira em relação às nossas riquezas naturais, a PEC é o exercício direto da nossa soberania, porque inclusive a decisão de não exploração, se for o caso, tem que ser dos brasileiros. O que nunca seria realizado por uma grande corporação multinacional ou pelo próprio governo dos Estados Unidos.
Quando o interesse que determina a exploração é o interesse do capitalista, o que ele faz é correr com o processo destrutivo de exploração para rapinar, para tirar tudo que seja possível no mais curto espaço de tempo. Essa decisão, essa discussão, tem que ser feita pelo povo brasileiro. A PEC tem também esse sentido de garantir os direitos dos brasileiros, a começar pela soberania de decisão.
A luta por soberania não pode se resumir à busca por novos mercados e à redução de tarifas, mas à superação da dependência histórica de nosso país. A descoberta desses minerais raros em nosso território coloca a necessidade urgente de um projeto soberano de país? E quais os eixos centrais de um projeto dessa relevância?
Sem dúvida nenhuma, essa é uma oportunidade histórica a partir de um ataque brutal. O Brasil é um país muito dependente. Para começar, nós temos que ter soberania tecnológica, nós temos que ter soberania alimentar, não podemos ser tão dependentes das exportações como geradoras de divisas. Os alimentos produzidos em território nacional têm que servir, em primeiro lugar, para alimentar o povo brasileiro, para que não exista, de qualquer forma, fome por aqui.
Quem é que não quer um suco de laranja mais barato? Quem é que não quer um café mais barato? Priorizar o atendimento da população brasileira é fundamental. Mas, para isso, a gente tem que investir na indústria nacional, investir nas nossas universidades, investir em ciência e tecnologia, o que está atrelado ao desenvolvimento das universidades brasileiras.
Que esse momento sirva para isso: para diminuir o grau de dependência que o Brasil tem de grandes potências como, por exemplo, dos Estados Unidos. Nós temos que ter um plano soberano discutido pelo povo brasileiro. O momento de discutir, implementar e colocar em prática esse plano é agora. O nosso mandato está contribuindo com uma parte disso, que é a discussão das Terras Raras, mas muito pode e deve ser feito em uma discussão de fôlego maior com o conjunto da sociedade brasileira, principalmente da classe trabalhadora.

Foto: Comunicação do mandato de Glauber Braga