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Três anos de conflito na Ucrânia: a contenção da OTAN e do genocídio da população russa do leste

Diversas organizações políticas, que se postulam como de esquerda revolucionária, se posicionaram contra a intervenção russa na Ucrânia, caracterizando-a como uma agressão imperialista. Na base desta caracterização estava a consideração do golpe de estado de 2014, que derrubou o governo democraticamente eleito Viktor Yanukovitch, como uma revolução democrática de massas. Tal interpretação desconsiderava completamente que o movimento golpista, embora tenha envolvido setores de massas em Kiev, era essencialmente dirigido por grupos nacionalistas radicais e neonazistas estruturados nas regiões ocidentais da Ucrânia e, com apoio político e financeiro das agências de inteligência dos EUA. A presença de Vitoria Nuland Subsecretária de Estado dos EUA nas manifestações de rua em Kiev no momento decisivo do levante golpista não deixa dúvidas sobre a verdadeira natureza deste movimento político. A participação de setores de massas nas mobilizações do golpe não altera seu caráter reacionário, antidemocrático e com características neonazistas e racistas. No golpe de 1964 no Brasil também houve mobilizações de massas de setores das classes médias favoráveis ao golpe. Aquelas mobilizações de cunho conservador não transformaram a usurpação violenta do poder e a derrubada do governo democraticamente eleito em uma revolução democrática.

As declarações posteriores desta mesma Victoria Nuland, amplamente divulgadas mundo afora, de que “nas duas últimas décadas os Estados Unidos gastaram US$ 5 bilhões para a “democratização” da Ucrânia”, evidenciaram de forma clara e inequívoca que o movimento golpista de 2014 era uma ação coordenada pelos EUA/OTAN, com o objetivo de romper os laços da Ucrânia com a Rússia, atrair a Ucrânia para a OTAN e transformá-la em ponta de lança das forças da OTAN nas fronteiras da Federação Russa. Tal situação constituía obviamente uma ameaça existencial para a Federação Russa porque implicava na perspectiva concreta de instalação de mísseis da OTAN nas fronteiras da Rússia, que alcançariam Moscou em três ou 4 minutos, sem chance de defesa. Tratava-se, portanto, de um contexto similar ao da crise dos mísseis soviéticos em Cuba, na década de 1960, que os EUA entenderam como uma ameaça existencial ao Estado americano.

A Ucrânia se tornou um país independente da URSS em 1991. O parlamento ucraniano aprovou na ocasião documentos que estabeleceram os princípios fundadores do estado ucraniano independente: o estatuto de país neutro e não alinhado; o estatuto de país não nuclear e o compromisso de respeito aos direitos à língua, aos costumes e demais tradições das nacionalidades componentes de sua população, em particular da população russa. Princípios fundadores da soberania nacional da Ucrânia que eram compromissos não só com a população ucraniana, mas também com as demais nações que compunham a antiga União Soviética, inclusive a vizinha Rússia. O golpe de estado em Kiev em 2014 representou a total ruptura da Ucrânia com os princípios fundadores do estado ucraniano. A perspectiva de integração na OTAN implica também na renúncia a sua própria soberania nacional, ao submeter-se ao poder decisório desta organização no campo militar.

De modo algum este processo poderia ser caracterizado como um movimento democrático de massas contra o governo Yanukovitch. Ao contrário, foi um movimento golpista, movimento reacionário de bases nacionalistas e neonazistas, claramente russofóbico, estimulado e apoiado pelos EUA/OTAN com claros objetivos dirigidos contra a população russa da Ucrânia e para a criação de um conflito com a Rússia em sua fronteira ocidental. Tratava-se, portanto, de um processo como parte da expansão da OTAN em direção à fronteira ocidental da Rússia com vistas ao cerco ao estado russo. As reações da Rússia diante desta ofensiva eram absolutamente inevitáveis. Tanto as ações do governo russo em 2014 com a incorporação da Criméia, quanto as posteriores, são claramente ações de defesa diante da ameaça existencial que representa a presença das OTAN em suas fronteiras.

A política de expansão da OTAN para o leste em direção à Rússia

Muitos anos antes de 2014 o governo russo já alertava contra a expansão da OTAN. Em fevereiro de 2007, na Conferência sobre Segurança em Munique, Putin criticou duramente o domínio monopolista dos EUA nas relações globais e alertou que a expansão da OTAN para o leste era considerada uma ameaça à segurança da Rússia: “Penso que é óbvio que a expansão da OTAN não tem qualquer relação com a modernização da própria Aliança, ou com a garantia da segurança na Europa. Pelo contrário, representa uma provocação grave que reduz o nível de confiança mútua. E temos o direito de perguntar: contra quem se destina esta expansão?” (Portal TASS)

A promessa dos líderes americanos de não expansão da OTAN para a Europa Oriental, após a reunificação da Alemanha e a extinção do Pacto de Varsóvia, foi desrespeitada e descartada com as integrações da Polônia, Hungria e República Tcheca em 1999 e, da Romênia, Bulgária, Eslováquia e os países bálticos em 2004, apesar da oposição da Rússia. O discurso duro de Putin em Munique em 2007 foi uma clara manifestação de que a Rússia não poderia ficar de mãos cruzadas diante desta expansão da OTAN em direção a suas fronteiras. Mesmo assim, os EUA e a OTAN não deram ouvidos à reclamação do governo russo e seguiram com seus planos ofensivos com o convite, em 2008, de integração à organização militar atlântica às ex-repúblicas soviéticas da Geórgia e Ucrânia que fazem fronteira diretamente com a Rússia.

Os eventos históricos posteriores em relação ao conflito russo-ucraniano só podem ser compreendidos à luz desta expansão da OTAN, claramente denunciada e definida por Putin em 2007 como uma clara ameaça à segurança europeia e da Rússia.

O golpe na Ucrânia: OTAN na fronteira da Rússia

O golpe de Estado na Ucrânia em 2014, estimulado pelos EUA e instrumentalizado com o apoio de organizações nacionalistas e neonazistas, que implantou um regime de características russofóbicas e alinhado à perspectiva de integração da Ucrânia na OTAN, concretizou a ameaça existencial para a Rússia com a possibilidade de implantação de ogivas nucleares a poucos minutos de Moscou, obrigou o governo russo a reagir com medidas defensivas que não mais podiam contornar um confronto militar.

A primeira medida da Rússia foi de impedir o acesso do governo golpista e, através dele, da OTAN à Criméia onde se situa a sede e grande parte da logística da Frota do Mar Negro, instrumento estratégico para a defesa contra ataques na frente sul da Federação Russa. As forças russas localizadas em Sebastopol fecharam as portas para a Marinha ucraniana e, logo, com o apoio em massa da população local, foi organizado um Referendo que decidiu pela reintegração da província à Rússia.

O Referendo permitiu à população da Criméia conseguir a reintegração que almejava a décadas, desde que contra sua vontade Kruschev editou o decreto inconstitucional, em 1954, transferindo a província para a República Socialista da Ucrânia. Uma reintegração que a Criméia também havia pleiteado em 1991, quando um Decreto de Yeltsin a aprovou, mas em seguida revogou, em razão das pressões de seus aliados de Kiev no processo de implosão da União Soviética, que derrubou as grandes conquistas da revolução proletária liderada pelo Partido Bolchevique de 1917. O golpe pró-imperialista e pró-OTAN de 2014, que derrubou o governo democraticamente eleito de Viktor Yanukovich, foi uma nova oportunidade para o povo da Criméia de conseguir finalmente o apoio da Rússia para seu retorno à Federação Russa.

O golpe de 2014 rompeu definitivamente a frágil paz interna da Ucrânia porque gerou uma mudança de regime político que colocou no poder do estado os movimentos nacionalistas radicais, apoiados por grupos neonazistas. Estes grupos têm Stephan Bandera como referência histórica de liderança e se propõem a uma ruptura total de laços com a Rússia, não só no campo econômico, mas também com os direitos relativos ao idioma russo e demais direitos específicos da nacionalidade russa. Estes movimentos consideram os russos como não ucranianos e inimigos a serem derrotados. Movimentos que durante a II Guerra Mundial lutaram ao lado do exército da Alemanha Nazista, inclusive participando do genocídio de populações da Ucrânia e Bielorússia.

A resistência da população russa do leste ucraniano

As populações russas das regiões do leste reagiram imediatamente porque conscientes do perigo que o novo regime representava e a ameaça de guerra civil. Com os inimigos históricos da população russa (e da Rússia) dentro da Ucrânia no comando do estado, explode a luta de resistência no leste, e na prática se inicia uma guerra civil. Esta resistência foi violentamente reprimida em Karkov e Odessa. Em Odessa um incêndio criminoso promovido por grupos neonazistas culminou com a morte de mais de 70 (setenta) pessoas que tentaram refugiar-se no interior do prédio dos sindicatos após ataques a uma manifestação pacífica de 1º de maio de 2014. As manifestações em Karkov foram igualmente reprimidas. Contudo, em Donetzk e Lugansk as manifestações enfrentaram a repressão e se transformaram em luta armada contra o regime de Kiev e posterior criação de Repúblicas Populares e declaração de independência.

Certamente, as milícias independentistas obtiveram apoio senão diretamente do governo russo, pelo menos de setores da sociedade russa. Após a realização do referendo pela independência em 2015 uma ofensiva militar do governo, de caráter genocida, com mais de 14 mil mortos na região. Contudo, a resistência impôs sucessivas derrotas ao governo que foi obrigado a aceitar negociações de paz.

A Rússia continuou tentando evitar um confronto maior e apresentou uma solução federativa nas negociações realizadas em Minsk com a participação da Ucrânia, França e Alemanha. Nesta tentativa A Ucrânia aceitaria uma reforma que permitisse às Repúblicas de Lugansk e Donetzk ampla autonomia administrativa, mas se manteria a unidade nacional ucraniana, além de respeitar os direitos à língua e à cultura russa destas populações. Apesar do Presidente Poroshenko assinar os Acordos Minsk I e Minsk II, a Ucrânia jamais pretendeu cumpri-los e continuou os bombardeios sistemáticos às duas regiões e jamais efetuou as mudanças constitucionais que pudessem incorporar os acordos assinados.

Anos mais tarde, a ex-presidente Ângela Merkel e o ex-presidente da França Sarkozy assumiram publicamente que os acordos de Minsk não passaram de uma fórmula para a Ucrânia ganhar tempo e se preparar militarmente para a guerra contra a Rússia.

Nova ofensiva genocida em 2021 e proposta russa de negociação

Assim, em 2021 o governo de Kiev acelerou os preparativos para uma nova ofensiva genocida contra as Repúblicas de Donetzk e Lugansk com a acumulação de forças em torno das duas Repúblicas com vistas a um ataque definitivo para sua aniquilação. As forças ucranianas somavam mais de 120 mil militares em posição para o ataque. Diante de mais esta ameaça genocida contra as populações russas a Rússia decidiu pela defesa das Repúblicas ameaçadas e posicionou também grande contingente militar que poderia a qualquer momento intervir e evitar o planejado massacre da população local.

Ao mesmo tempo, se aceleraram as movimentações pela integração da Ucrânia como membro da OTAN. Diante deste cenário a Rússia exigiu dos EUA e da OTAN negociações sobre a não integração da Ucrânia à OTAN e outras medidas relativas à segurança coletiva na Europa, considerando o princípio de uma segurança igualitária e indivisível que proteja todos os estados sem comprometer a de outros. As exigências russas foram rechaçadas categoricamente pelos EUA e OTAN, que continuaram ostensivamente na posição de que apenas a OTAN decidiria quem se incorpora à organização, excluindo assim, qualquer consideração relativa à segurança da Rússia.

Com a negativa da OTAN diante das exigências de garantias de segurança para a Rússia, em fevereiro de 2022, a Rússia inicia uma Operação Militar Especial que tem como objetivos rechaçar a iminente ofensiva uraniana no DONBASS contra Donetzk e Lugansk e, impor a desmilitarização e desnazificação completa da Ucrânia.

De modo algum, estas ações decididas pela Rússia em 2022 podem ser definidas como imperialistas. Imperialistas são as ações que visam a conquista e dominação de um território e de uma nação para fins de sua exploração. As ações da Rússia são indubitavelmente ações de natureza defensiva diante da ameaça existencial representada pela ofensiva da OTAN em sua fronteira.

A Rússia na defesa ativa: a operação militar especial

Outro aspecto consiste na definição das ações enquanto uma Operação Militar Especial envolve um conteúdo que determina as características da intervenção que, embora militar, não é uma guerra tradicional declara contra uma nação, que visa a dominação ou destruição do país, suas cidades e população. A Operação Militar Especial é dirigida contra as FFAA da Ucrânia e as formações compostas por bandos neonazistas, como o Setor Direita, Azov, Kraken, e outros. Como a Operação tem como objetivo a total desmilitarização do país, também são atacadas a indústria e a logística que dá suporte às forças militares, inclusive a produção e distribuição de energia. Contudo, esta característica da OME se orienta para a preservação da população e as organizações civis, que a Rússia considera como fraternas e não inimigas.

Como parte das ações de defesa das populações russas no leste ucraniano, em um movimento político, em fevereiro de 2022, a Rússia reconhece a independência das Repúblicas de Donetzk e Lugansk, por um Decreto presidencial, com base em uma lei aprovada pela Duma Estatal (o parlamento russo) a partir de um projeto proposto pelo Partido Comunista, e assina com elas acordos de amizade, cooperação e assistência.

A primeira fase da Operação envolveu uma ofensiva geral, com ataques de mísseis contra setores militares estratégicos da Ucrânia e, em terra, as tropas avançam rapidamente e, em poucas semanas ocupam grandes áreas do sudeste ucraniano (Kherson e Zaporishia), estabelecem o cerco a Mariupol e, desta forma, corta o acesso da Ucrânia ao Mar de Azov. Assim, as forças russas conseguem estabelecer um corredor terrestre para a Criméia, o que criou uma segunda linha logística para a região, além da ponte. Também impõe um cerco a Kiev, a capital do país, na tentativa de forçar o regime a um acordo que envolvia sua desistência definitiva de aderir à OTAN, o reconhecimento dos direitos da população russa, o fechamento das formações neonazistas e a manutenção de FFAA com capacidade reduzida que não pudessem representar perigo para a Federação Russa. Durante as negociações com o governo, em sinal de boa vontade, a Rússia retirou suas tropas da região de Kiev. O acordo estava praticamente selado (Acordo de Istambul) quando entrou em cena o Primeiro Ministro Boris Johnson, da Inglaterra, exigindo que o regime de Kiev desistisse do mesmo, e comprometendo, em nome da OTAN, toda ajuda necessária para o enfrentamento militar com a Rússia.

A guerra imperialista multidimensional e da OTAN contra a Rússia

A partir deste momento, a Rússia compreendendo que o conflito não era mais apenas com a Ucrânia, muda para uma estratégia de um conflito de longo prazo que envolvia a OTAN. Um conflito em que o apoio à Ucrânia não consistia só de armas e munições, mas também um apoio financeiro de centenas de bilhões de dólares, além de uma política de sanções econômicas destinadas a isolar a e prejudicar a economia russa e sua população. A política do imperialismo americano pretendia impor uma crise que colocasse a Rússia de joelhos e que levasse à derrota militar. A guerra econômica era um elemento central da guerra imperialista.

O conflito se tornou, portanto, multidimensional e com os EUA empurrando a Europa a aderir incondicionalmente a sua política de sanções econômicas ilegais contra a Rússia. De 2014 até hoje foram mais de 28 mil sanções aplicadas à Rússia, suas empresas e cidadãos. Os EUA forçaram a suspensão das aquisições de energia russa barata e, o cerceamento intenso de todas as relações comerciais com a Rússia, mesmo ao custo de prejudicar as bases do desenvolvimento industrial, especialmente da Alemanha, gerando uma crise econômica na Alemanha e em toda Europa. O custo de vida vem subindo substancialmente por conta do aumento do custo da energia. Mas, a guerra econômica derivou até mesmo para o terrorismo econômico com a destruição dos gasodutos NordStream I e II, com a evidente participação dos EUA/OTAN.

Para enfrentar este novo contexto geral do conflito a Rússia é obrigada a uma profunda reorientação de sua economia, para a busca de novos mercados para seus produtos, com reforço de seus laços comerciais com a China e outros países do Sul Global. Foi implantado um amplo programa de substituição de importações, além de concentrar grandes esforços financeiros e industriais para a produção de armamentos e munições para uma guerra prolongada.

Em setembro de 2022 a Rússia incorpora formalmente as Repúblicas Independentes de Donetzk e Lugansk, assim como as Regiões de Kherson e Zaporishia, após um Referendo junto à população destas duas Regiões, ao território da Federação Russa.

Com apoio intensivo da OTAN, que passou a fornecer apoio no assessoramento militar, treinamento, além de serviços de inteligência e de comunicações, além do envio de grande quantidade de armas pesadas, munições, a Ucrânia preparou uma ampla contra ofensiva militar nas Regiões de Karkov e Kherson. Esta contra ofensiva, marcada inicialmente para março de 2023, foi retardada até o verão do mesmo ano para que todo este apoio material e financeiro da OTAN pudesse ser incorporado às FFAA ucranianas.

Prevendo a dinâmica do conflito com a participação da OTAN, a Rússia aproveitou este período para montar uma enorme linha defensiva, com mais de 800 km, coordenada pelo General Surovikin (a Linha Surovikin). Esta linha se tornou uma fortaleza para a qual a Rússia passou a recuar suas tropas, onde passaram a enfrentar, em posições vantajosas, a ofensiva militar ucraniana.

Em seu início a ofensiva permitiu ao exército ucraniano recuperar certas áreas a leste de Karkov e, no sul, parte da Região de Kherson, inclusive a cidade de Kherson situada a oeste do Dnieper. O recuo russo aparentemente induziu as forças ucranianas para uma ofensiva acelerada, com o regime de Kiev imaginando que se tratava de fragilidade do exército russo, e que seria possível uma vitória e a recuperação de territórios do leste, em especial as áreas de Kherson, Zaporishia, já integradas à Rússia, e mesmo a Criméia. Para isso seria necessário que a ofensiva conseguisse dividir as defesas russas no sul e alcançar novamente o Mar de Azov. No entanto, a ofensiva não conseguiu em momento algum ultrapassar sequer a primeira linha das defesas russas e, com o decorrer do tempo, acabou virando um massacre para as tropas ucrânias, com perdas de centenas de milhares de soldados em poucos meses.

Enquanto isto a Rússia preparou a sua economia, reorganizou suas forças, aumentou a produção de armas, mudou suas estruturas de comando e implantou novas táticas de ação, além de introduzir aceleradamente novas tecnologias e novos tipos de armamentos no campo de batalha, para enfrentar toda a estrutura de apoio montada pela OTAN à Ucrânia. E ao final de 2023, a ofensiva ucraniana havia fracassado totalmente. Uma nova ofensiva russa estava se aproximando.

De fato, a partir do final do ano de 2023, uma nova e abrangente ofensiva russa, agora ao longo de toda a linha, da Região de Karkiv ao norte, ao sul da Região de Donetzk, até Zaporishia, foi se desenvolvendo ao longo de todo ano de 2024. Uma ofensiva relativamente lenta, mas decisiva, com a reconquista de dezenas de pequenas cidades e vilarejos, e o enfraquecimento lento e gradual do exército ucraniano.

Esta nova fase do conflito trouxe consigo uma forma completamente nova de conduzir a guerra, com a introdução de novas tecnologias. Um elemento importante foi o uso de antigas bombas pesadas dos bombardeiros soviéticos modificadas, com a implantação e aletas e sistemas de orientação por satélites, adquirindo assim capacidade de voo autônomo para o alcance de alvos localizados a centenas de quilômetros de distância, sem a necessidade do bombardeiro entrar no raio de alcance dos sistemas de defesas antiaéreas inimigas. Mas o elemento mais marcante destas novas tecnologias é a introdução dos drones nos combates. Com o apoio dos países da OTAN, a Ucrânia, que sofria ao longo de toda a linha de frente com os avanços russos, conseguiu efetuar ataques em território russo, alcançando certo impacto com seus drones, evidentemente orientados por sistemas de satélites ocidentais e com operadores especialistas da OTAN.

Mas, aos poucos a Rússia consegue introduzir novos instrumentos de defesa antiaérea, próprios para a detecção e eliminação dos drones inimigos e avançar rapidamente na produção em larga escala de diferentes tipos de drones, tanto para fins de localização das posições inimigas, como mais avançados para ataques.

A introdução da inteligência artificial junto com os drones permite hoje a utilização dos chamados enxames de drones, com dezenas ou centenas destes artefatos agindo coordenadamente, além da combinação da utilização de enxames de drones de diferentes tipos (drones baratos de distração e saturação dos sistemas de defesa antiaérea, drones suicidas, drones de ataque sofisticados) com ataques de mísseis de precisão de longo alcance, bombas pesadas orientadas por satélites e, ainda, a articulação com ataques de artilharia. Cada vez mais, a Rússia tem se utilizado de ataques, ao longo de todo o território ucraniano, que combinam todas estas novas capacidades tecnológicas, anulando completamente as capacidades defensivas fornecidas pela OTAN. 

Com esta evolução o conflito em seu estágio atual é completamente diferente do seu início. Houve uma completa transformação das formas de levar adiante uma guerra. Os especialistas são unânimes em afirmar que a partir desta fase do conflito ucraniano as guerra não serão mais as mesmas.

Mas, o evento mais importante do conflito em 2024 foi a invasão ucraniana do território russo na região fronteiriça de Kursk. Foi a primeira intervenção estrangeira em território russo desde II guerra Mundial e, certamente, teve um impacto emocional muito forte na população russa. Embora se tratando de uma ação relâmpago que sabidamente não teria a possibilidade de mudar a dinâmica do conflito, e que levaria a uma derrota inevitável, segundo a avaliação geral de especialistas. Aparentemente o principal objetivo da ação seria forças a Rússia a deslocar grandes contingentes de soldados e armamentos para Kursk, enfraquecendo a ofensiva em curso em outras áreas, especialmente no DONBASS, além de elevar o moral do exército ucraniano em franco processo de desarticulação ao longo da linha de frente.

No entanto, não foi o que ocorreu. A ofensiva russa em toda linha de frente continuou e se intensificou. Para enfrentar a provocação em Kursk a Rússia trouxe tropas não engajadas na linha de frente, como da Chechênia, e nas semanas o governo russo admitiu a presença de tropas da Coréia do Norte, como parte da Parceria Estratégica Abrangente, firmado recentemente entre os governos dos dois países. Após poucos meses as forças ucranianas foram massacradas pela contra ofensiva russa, levando a um total de mais de 76 mil militares ucranianos mortos e feridos, e gigantescas perdas de equipamentos e armamentos. Conforme relatos do Ministério da Defesa da Rússia. Segundo estes informes a Ucrânia teria perdido mais de 7.700 unidades de equipamentos, incluindo 412 tanques, 340 veículos de combate de infantaria, 314 veículos blindados de transporte de pessoal, e 2300 veículos blindados de infantaria. A aventura em Kursk, apesar dos impactos sobre a população civil da região, e os crimes de guerra contra esta população, representou um custo irrecuperável para o regime de Kiev e, sem dúvida, terá impactos importantes para a queda do regime neonazista de Kiev e seus patrocinadores da OTAN.

Novo governo e nova política americana

A grande mudança no cenário político internacional foi a derrota do Partido Democrata nas eleições americanas e a instalação do governo de Donald Trump.

O governo Democrata de Biden e Kamala Harrys implementou uma política agressiva em relação à Rússia, em continuidade com a dos governos Democratas anteriores de Bill Clinton, na década de 1990, e Obama que protagonizou o golpe antidemocrático e russofóbico de 2014 na Ucrânia, que deu origem ao conflito militar com a Rússia.

Na década de 1990, Bill Clinton lançou uma agressiva política com o intuito de promover a hegemonia econômica e política americana a nível global. A política da globalização teve como eixos a conquista e dominação dos mercados da Europa do leste, incluída a Rússia, além de expandir a presença das corporações americanas na China. Enquanto na Rússia o imperialismo americano contou com o apoio ativo do governo do Presidente Boris Yeltsin para a implantação acelerada de uma economia de mercado, o que contribuiu também para a queda dos regimes dos partidos comunistas nas ex-repúblicas soviéticas e no leste europeu e, na China, com as concessões ampliadas do governo chinês, após a implosão da União Soviética, na expansão da presença das grandes empresas imperialistas.

Na Yugoslávia, entretanto, foi necessária uma intervenção militar da OTAN para com seus bombardeios impor a divisão do país e a dominação imperialista. A concretização dos objetivos da globalização econômica, mostra o caso yugoslavo, nem sempre seria alcançada mediante a aplicação voluntária de uma política neoliberal por um governo submisso. O império se faria impor também pelos meios militares.

O governo Clinton na sua perspectiva globalista não hesitou em adotar uma política expansionista da OTAN para o leste europeu, em direção às fronteiras da Rússia e a ruptura dos acordos de não expansão prometidos aos dirigentes da URSS, logo após a reunificação da Alemanha em 1990 e a extinção unilateral do Pacto de Varsóvia. Assim, foi no Governo Clinton que, em 1999, foram incorporados à OTAN a República Tcheca, a Polônia e a Hungria.

A OTAN surgiu após a II Guerra Mundial como uma aliança militar do imperialismo americano e europeu com a missão de defesa do capital dos países imperialistas diante da ameaça da revolução proletária, a chamada “ameaça comunista”. A partir da política de globalização imperialista a OTAN assume o papel de instrumento militar do projeto de dominação imperialista global.

Os governos americanos seguintes, especialmente de George Bush (o pai), seguiram com novas incorporações com os casos da Romênia, Bulgária, Eslováquia e Países Bálticos em 2004. E, em 2008, surgiu a proposta de incorporação também da Geórgia e Ucrânia, países que fazem fronteira direta com a Federação Russa. Mas, só a partir do golpe de estado em 2014, durante o governo Obama, que a perspectiva de incorporação da Ucrânia passou a estar na pauta efetivamente com o governo golpista de Kiev. De fato, o objetivo central do golpe na Ucrânia, é o cerco estratégico da Rússia com a implantação da OTAN na sua fronteira ocidental.

O governo Biden/Kamala Harrys impulsionou a guerra contra a Rússia com forte apoio financeiro ao regime de Kiev, a adoção de duríssimas sanções econômicas tentando minar a economia russa e arrastou a União Européia para o conflito e para a ruptura das relações comerciais da Europa com a Rússia e o fornecimento de armas em grande escala, não só defensivas, mas também mísseis de longo alcance para ataques diretamente ao território da Federação Russa. Tanto os ataques de mísseis e drones em território russo tiveram o suporte de especialistas da OTAN na operação dos complexos equipamentos americanos e europeus de defesa antiaérea instalados em Kiev e outros pontos, como os ataques ao território russo não seriam possíveis sem a assistência de aviões espiões e de satélites para a definição dos alvos e a navegação dos artefatos.

Duas frentes contrarrevolucionárias: a de Biden e a de Trump

O envio de tropas da OTAN para a Ucrânia chegou a ser cogitado inúmeras vezes, especialmente no momento em que a deterioração da capacidade do exército ucraniano se tornou mais evidente, apesar dos riscos de um conflito direto dos EUA com a Rússia, que inevitavelmente se transformaria em uma guerra nuclear. A política externa do governo Biden/Kamala passava pelo enfrentamento militar da Rússia e na continuidade de expansão da OTAN nas fronteiras da Rússia. A integração da Suécia e Finlândia à OTAN é a expressão da irredutibilidade na concepção expansionista e o cerco à Rússia.

O governo Trump vem adotando uma versão diferenciada da política imperialista no enfrentamento da crise do sistema capitalista. Para o governo Trump, tomando como base as diversas declarações do próprio Presidente e seus principais auxiliares, a globalização é uma das causas da desindustrialização e crise no mercado interno que enfrentam os EUA. Atualmente a produção industrial americana representa apenas 13% da produção mundial, quando ao final da II Guerra Mundial, em 1945, a participação americana alcançava 45% de toda produção industrial no mundo. Assim, Trump se orienta pela perspectiva de uma reversão deste processo e a reindustrialização dos EUA, com o retorno das indústrias americanas que se deslocaram a outros países.

O vice-presidente estadunidense, J.D. Vance sintetizou a visão das elites americanas com a seguinte declaração:

“A primeira é assumir que podemos separar a fabricação das coisas do design das coisas. A ideia da globalização era que os países ricos subiriam mais na cadeia de valor, enquanto os países pobres fariam as coisas mais simples.

[…]

Agora, nós assumimos que outras nações sempre nos seguiriam na cadeia de valor, mas acontece que, à medida que elas melhoravam na extremidade inferior da cadeia de valor, elas também começaram a se desenvolver na extremidade superior. Fomos espremidos de ambas as extremidades. Agora, esse foi o primeiro conceito da globalização.” (discurso de Vance no American Dynamism Summit, março de 2024)

Podemos concluir destas afirmações que as elites americanas estão perfeitamente cientes do declínio econômico dos EUA e, no desespero diante deste processo adotam políticas que supõe possam “Fazer a América Grande Novamente”. A política tarifária do governo Trump tem, pois, como objetivos reverter o processo de globalização trazendo de volta aos EUA as empresas que deslocaram a sua produção para outros países, e combater o gigantesco déficit comercial americano com a China, mas também com os demais países, especialmente da Europa, Ásia e América Latina. Trata-se, portanto, de uma política de cunho protecionista que parte da base de que todos os demais países exploram os EUA e isto também estaria causando a dívida pública americana que precisa ser reduzida com uma drástica política de cortes de gastos.

Mas, diferentemente da estratégia protecionista do governo Trump, os governos Democratas desde Clinton a Biden, tem colocado o enfrentamento com a Rússia, com vistas a seu enfraquecimento econômico e militar como prioridade na sua política externa. A Rússia sempre foi, inclusive na época da União Soviética, o guarda chuva nuclear de proteção da China, independentemente das contradições e dos conflitos pontuais entre a URSS e a China naquela época.

Nesta perspectiva estratégica, o golpe da Ucrânia de 2014, e o posterior conflito militar russo-ucraniano, foi a grande oportunidade para a articulação do confronto da OTAN com a Rússia. A guerra multidimensional impulsionada pelos EUA/OTAN contra a Rússia almejava o seu enfraquecimento econômico e sua submissão aos ditames do capital financeiro americano, ou a sua destruição enquanto potência militar capaz de se opor aos objetivos da globalização da dominação americana. A destruição ou a redução da Rússia a “um posto de gasolina no deserto” (como publicamente almejavam os neoconservadores americanos), conduziria ao isolamento da China (segundo os estrategistas globalistas) e, consequentemente a mercê das pressões e da chantagem do capital financeiro americano para a implantação das políticas neoliberais, a eliminação do poder do Partido Comunista Chinês, e o controle do gigantesco mercado consumidor chinês. A dominação global do capital financeiro americano então se completaria desta forma.

A estratégia do governo Trump para o enfrentamento da crise e o declínio da hegemonia americana se diferencia dos Democratas. Em diferentes declarações de Trump indicam que quer evitar um confronto direto com a Rússia. A grande preocupação de Trump é o avanço da China e o perigo que a China representa para a hegemonia americana. Trump tem declarado em várias ocasiões que a Ucrânia não tem condições de vencer a guerra com a Rússia e que a guerra da Ucrânia é uma guerra do Biden. Declarou inclusive que a participação americana no conflito russo-ucraniano poderia levar a um conflito nuclear com a Rússia e que isso resultaria provavelmente na destruição total da civilização humana. Trump, por estas declarações, tem, portanto, consciência dos riscos de uma guerra com a Rússia, entre duas potências nucleares.

Aliás, o conflito ucraniano é, do ponto de vista econômico, um grande gasto, a ser eliminado, se possível. Talvez por esta razão que esteja buscando uma saída negociada para a Ucrânia, mesmo com concessões territoriais importantes (concessões que sabidamente não atendem aos objetivos gerais de segurança da Rússia envolvidas no conflito), como forma de impedir o desaparecimento do estado ucraniano após o conflito e a inevitável derrota do regime de Kiev. A busca de um acordo de exploração futura de minerais e terras raras da Ucrânia é outro indicativo de que enxerga neste tipo de acordo a única maneira de recuperar os mais de 350 bilhões de dólares pelos EUA no apoio à guerra da Ucrânia.

Aparentemente, na visão do governo Trump, é mais interessante para os EUA retirar-se do conflito russo-ucraniano (uma guerra perdida na sua visão) para concentrar-se no enfrentamento com a China. É nesta direção que podemos interpretar a declaração de Mário Rubio, Secretário de Estado do governo Trump, de que os EUA poderão retirar-se da mediação de um acordo de paz entre a Rússia e Ucrânia, por que “há coisas mais importantes com que se preocupar”.

Uma reaproximação com a Rússia pode, portanto, ser vista como uma tentativa de tentar colocar uma cunha na aliança russo-chinesa e na consolidação dos BRICS, para poder enfrentar em melhores condições a batalha com a China. Ou seja, uma tentativa de neutralizar a Rússia e isolar a China, uma versão invertida da estratégia de Nixon/Kissinger do passado. Mas, como nas demais políticas do novo governo americano, esta é também uma perspectiva pouco realista, dado o grau de profundidade já alcançado na parceria estratégica da Rússia com a China e demais integrantes do BRICS. A política de enfrentamento do governo Biden, de guerra multidimensional contra a Rússia, se por um lado produziu uma aproximação submissa da Europa aos EUA, produziu igualmente um aprofundamento das relações russo-chinesas e as outras nações do Grupo BRICS.

Apesar destas diferenças de estratégia das administrações anteriores dos EUA e a atual, a dinâmica futura das relações dos EUA com a Rússia, assim como dos EUA e a Europa, e sua posição quanto ao conflito russo-ucraniano dependerá de uma série de fatores. Existe um grande jogo de pressões dos grupos neoconservadores, como do complexo industrial militar, pela continuidade da intervenção americana no conflito em apoio à Ucrânia. Da mesma forma, existem fortes pressões do Reino Unido e de países da União Européia nesta mesma direção. A tentativa de Trump de retirar os EUA do conflito e deixar a questão nas mãos da UE é uma saída para a eliminação de gigantescos gastos militares americanos. A sinalização de que os EUA poderiam retirar-se das negociações e do conflito já está produzindo um movimento pelo rearmamento da Europa. Fala-se em cifras astronômicas para o financiamento do complexo militar industrial dos países da UE. Da mesma forma, apresentam-se em discursos inflamados propostas de envio de tropas de países europeus para lutar na Ucrânia. Recursos bilionários para a estruturação de um sistema de defesa coletivo da Europa que, obviamente, serão retiradas dos orçamentos que hoje financiam a seguridade social e o bem estar dos cidadãos europeus.

A situação atual e as perspectivas

Após três anos de conflito, no contexto da Operação Militar Especial russa, algumas conclusões relevantes podem ser assinaladas:

1) A Operação Militar Especial da Rússia na Ucrânia e seus desdobramentos teve um impacto profundo no equilíbrio do poder global. A unipolaridade no equilíbrio do poder sob a hegemonia americana, característica predominante em todo o período desde o fim da URSS, foi colocada em cheque e novos centros de poder tornaram-se realidade. A Rússia confrontou militarmente as decisões da OTAN quanto a sua expansão com a integração da Ucrânia e suas ações militares no conflito. Ao mesmo tempo, a Rússia neutralizou as ações e os efeitos da guerra econômico-financeira, implementada de forma articulada pelos EUA e União Européia, que tinha como objetivo a quebra da economia russa e sua submissão aos ditames imperiais. A economia russa, apesar das mais de 28 mil sanções aplicadas pelo imperialismo, resistiu às pressões e chantagens e, nos últimos dois anos, teve seu PIB com taxas de crescimento em torno de 4%, superior às taxas de crescimento dos países do G7.

A vitória russa no enfrentamento à guerra multidimensional imposta pelos países imperialistas foi possível graças à articulação com a China e demais países do Grupo BRICS, o fortalecimento das relações entre os países da Organização de Cooperação de Xangai e, com os países do Sul Global que rechaçam a pretensão hegemônica americana e se colocam na defesa de sua soberania e apoiam novas formas de relações entre as nações baseadas na igualdade e no respeito mútuo. Estas articulações permitiram não somente impedir o isolamento internacional da Rússia e a ampliação de suas relações comerciais com os países do Sul Global, como estabelecer conjuntamente novos mecanismos de pagamentos baseadas no uso de suas moedas nacionais e de transações interbancárias de diferentes países não controladas pelos EUA e EU através do sistema SWIFT.

Todo este desenvolvimento coloca em cheque a hegemonia americana no comércio internacional, o controle sobre os meios de pagamento, com o consequente enfraquecimento do dólar como meio de pagamento e reserva de valor. Tais desdobramentos aprofundam a crise econômica e financeira internacional e impedem ao governo americano de manter a política de espoliação global para a solução de seus problemas econômicos.

A conformação e consolidação de novos centros de poder no campo econômico e político, centrados na articulação da China com sua força econômica e a Rússia, com seu extraordinário poderio militar e sua força econômica baseada no seu extraordinário desenvolvimento científico e tecnológico em áreas estratégicas, além de suas riquezas naturais, é o desdobramento mais importante do ponto de vista estratégico e que alterou qualitativamente as relações de poder global.

A expulsão do imperialismo francês de vários países da África é, sem dúvida, um reflexo desta nova realidade internacional. As ações de vários países do norte da África que impuseram a retirada das bases militares francesas constitui, de fato, uma um novo movimento de independência destes países e se explica pelo surgimento de novos centros de poder em que podem ancorar sua defesa contra a dominação imperialista.

Esta realidade é reconhecida também em pronunciamento do Secretário de Estado M arco Rubio, em janeiro deste ano, de forma até surpreendente considerando que vem de alguém com histórico de neoconservador:

“E acho que isso se perdeu no fim da Guerra Fria, porque éramos a única potência no mundo e, por isso, assumimos a responsabilidade de nos tornarmos, em muitos casos, o governo global, tentando resolver todos os problemas. E há coisas terríveis acontecendo no mundo. Há. E há coisas terríveis que impactam diretamente nossos interesses nacionais, e precisamos priorizá-las novamente. Portanto, não é normal que o mundo tenha apenas uma potência unipolar. Isso não foi uma anomalia. Foi um produto do fim da Guerra Fria, mas eventualmente voltaríamos a um ponto em que teríamos um mundo multipolar, com várias grandes potências em diferentes partes do planeta. Enfrentamos isso agora com a China e, em certa medida, com a Rússia, e depois temos Estados desonestos como o Irã e a Coreia do Norte com os quais precisamos lidar.” (https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn0jj5n45e0o em três de março de 2025)

A afirmação de Trump de que a Ucrânia não pode vencer a Rússia e, a busca do governo americano de solucionar o conflito por meio de negociações, é um reconhecimento tácito da derrota imperialista na guerra híbrida contra a Rússia. A aceitação da não integração da Ucrânia na OTAN e outras concessões agora fazem parte do cardápio das propostas americanas para uma saída honrosa diante da catástrofe. A unipolaridade nas relações de poder no mundo entrou em declínio e uma nova ordem internacional está surgindo. Esta mudança marca a nova realidade internacional.

2) A guerra multidimensional levada a cabo pelos países imperialistas contra a Rússia foi efetivamente derrotada. As sanções não tiveram o efeito devastador esperado e, apesar do apoio financeiro de centenas de bilhões de dólares e todo arsenal militar colocado à disposição de Kiev, inclusive com a disponibilização de avançados sistemas de defesa e dos serviços de inteligência e expertise pela OTAN, a Ucrânia está sendo derrotada também no campo de batalha. A Rússia está em nova ofensiva e a Ucrânia não resistirá muito tempo, com ou sem ajuda americana. A Indústria de guerra ucraniana, sua logística de apoio, assim como a produção e distribuição de energia, está em grande parte destruída. Porém, o conflito militar ainda continua e, provavelmente, continuará por um bom tempo, com uma Ucrânia mantida viva artificialmente, sustentada com meios fornecidos pelos países da OTAN.

O imperialismo chantageia Zelensky para pilhagem de terras raras

E enquanto o governo americano pressiona por negociações com amplas concessões (e um acordo de exploração de minerais ucranianos que possa de alguma maneira ressarcir os EUA pelos investimentos militares feitos na guerra), o regime instalado em Kiev tenta resistir a todo custo, com o apoio financeiro e discursos inflamados de governo europeus arrastados ao conflito pelo governo americano anterior. Decreto firmado por Zelensky proíbe negociações com a Rússia e qualquer tentativa de aceitar um acordo com concessões não será aceito pelas formações neonazistas. Como as estruturas de estado estão todas infestadas pelas organizações neonazistas, que controlam os comandos do aparato estatal, Zelensky e todo o corpo político dirigente são reféns desta estrutura. O regime de Kiev funciona hoje exclusivamente para a guerra contra a Rússia e esta não acabará sem a destruição completa do regime instalado.

A Rússia, neste contexto, também não aceitará qualquer acordo que implique em renúncia ao objetivo da desmilitarização e desnazificação da Ucrânia. Os ataques ao território russo continuarão indefinidamente sem a criação de uma zona tampão não controlada por Kiev que impeça o acesso do regime de Kiev ao território russo. Esta zona necessariamente deverá abranger as regiões ucranianas com acesso ao Mar Negro e com fronteira com a
Federação Russa. Ou seja, envolve ao menos as regiões de Odessa, Nikolayev, Karkov e Summy, além das atualmente já integradas à Rússia (Donetzk, Lugansk, Zaporishia e Kherson). E, ainda assim será insuficiente, se continuar o fornecimento de mísseis de longo alcance pelos países da OTAN, como ocorre atualmente.

Da mesma forma, a Rússia vem rejeitando categoricamente as propostas da França e Reino Unido de “forças de paz” de países da OTAN a partir de um acordo de paz. Menos ainda aceitará a Rússia um acordo de paz que envolva a permanência do atual regime.

Disto se deduz que o fim do conflito só ocorrerá com uma derrota total e definitiva do regime instalado em Kiev, o que pode demorar mais ou menos dependendo da continuidade ou não do apoio logístico e militar dos países da OTAN. O risco de uma nova escalada não está ainda descartado. A posição dos EUA continua sendo indefinida quanto à continuidade do apoio ou não à Ucrânia e é fundamental para o desfecho do conflito. Sem o apoio decidido dos EUA dificilmente a Europa poderá encarar uma escalada, especialmente com o envio de tropas. Resta saber se os EUA vão deixar o conflito e “cuidar de outros assuntos mais importantes” ou se retoma o curso anterior pretendido pelos neoconservadores e o complexo industrial militar. Contudo alguns países indicam estar dispostos ao confronto direto com a Rússia. A decisão recente da Alemanha, Inglaterra e França de autorizar à Ucrânia o uso de armas de longo alcance para o ataque ao território russo indica uma escalada extremamente perigosa que obrigará à Rússia aumentar os ataques a todo o território ucraniano e ampliar as áreas da c pretendida zona tampão. A militarização da Europa, com investimentos gigantescos no rearmamento europeu, combinada com o roubo de parte dos 300 bilhões de euros russos depositados em bancos europeus, é uma perspectiva altamente perigosa que pode conduzir a um conflito em larga escala na Europa em médio prazo. Este processo evidencia o grau de desespero diante do aprofundamento da crise econômica e social e uma nova tentativa de resolver a crise mediante a destruição de gigantescas forças produtivas e o risco de uma guerra nuclear.

O desenrolar das negociações em curso entre a Rússia e EUA deverá indicar nas próximas semanas o rumo que o conflito se desenvolverá. Uma nova e maior ofensiva da Rússia na primavera é esperada. A capacidade de resistir do regime ucraniano ao avanço russo na linha de frente, e o tempo de duração do conflito, dependerá das decisões a serem tomadas em Washington e Bruxelas.

O alinhamento aos EUA afunda a Europa e fortalece a direita

3) A Submissão da Europa à política americana de guerra híbrida contra a Rússia, utilizando a Ucrânia e seu povo como instrumento, conduziu à ruptura radical das relações comerciais da Europa com a Rússia, com a consequente perda dos recursos naturais e de energia barata fornecidos à indústria de vários países, especialmente a Alemanha. A aceitação da imposição das políticas antirussas americanas levou a uma crise da produção industrial alemã e a um forte aumento dos custos de energia para o conjunto da população.

Protestos na Espanha conta o aumento do custo de vida – Carta Capital 19-3-22

Conforme previsto por nós ainda em 2022, a adesão incondicional da União Européia à política americana levou ao fortalecimento do campo da direita e ao enfraquecimento dos partidos socialdemocratas e liberais. A direita cresceu eleitoralmente em vários importantes países como na Itália, na Alemanha, na Áustria e também na França. Na Alemanha a coalização de liberais, socialdemocratas e verdes entrou em crise e, logo, foi derrotada nas eleições gerais. O Partido Democrata Cristão, partido de centro direita, e a formação de direita Alternativa Para a Alemanha foram os partidos que mais cresceram. Na França, a frente governante dirigida pelo Presidente Macron, acabou apenas como terceira força política, atrás da França Insubmissa (de centro esquerda) e do Reagrupamento Nacional (de Le Pen), levando a uma situação de grande instabilidade política no país.

Por outro lado, alguns países se colocaram na oposição à política de apoio financeiro e militar à Ucrânia, como a Hungria e agora também a Eslováquia. Na Romênia a direita nacionalista, também contrária ao apoio à Ucrânia foi a formação política que alcançou mais de 40% dos votos para a Presidência do país. Na Bulgária também ocorre um processo de fortalecimento das organizações políticas contrária à política da EU e pela retomada das relações com a Rússia.

O aprofundamento da crise econômica e social derivada da política de alinhamento incondicional dos EUA em relação à Ucrânia, à qual se adiciona agora a política protecionista dos EUA e que afeta fortemente as exportações industriais europeias para a América, coloca a Europa em uma situação crítica que prenuncia um aprofundamento da crise econômica, social e política. Os desdobramentos destas crises devem levar à continuidade do fortalecimento da ultra direita, mas com um crescimento também à esquerda e, consequentemente, a uma crescente polarização entre a direita e a esquerda. Isto será marcante especialmente na França, onde esta polarização já vem se manifestando, como na Itália onde o partido Democrata de Esquerda (sucedâneo do antigo Partido Comunista) teve um crescimento eleitoral importante nas últimas eleições.

Manifestantes protestam na França após vitória da ultradireita no 1º turno das eleições na Place de la Republique em 30 de junho de 2024 (foto da CNN Brasil)

Neste contexto de aprofundamento da crise, a política de rearmamento da Europa e a alocação de recursos massivos para a indústria de defesa, opção que deverá levar a um aumento exponencial dos gastos militares em detrimento dos gastos sociais, a tendência mais provável será um aprofundamento da crise interna dos países e da luta de classes, bem como ao aprofundamento da crise da própria União Européia nos próximos anos.

4) O declínio da ordem internacional unipolar e o surgimento de uma nova ordem baseada em múltiplos centros de poder estimula e fortalece a resistência à dominação imperialista na América Latina, África e outras partes do mundo. O fortalecimento dos BRICS cumprirá papel relevante como plataforma de articulação e de apoio político e econômico ao desenvolvimento de países ainda submetidos a formas de colonialismo ou interferências, por meio de fomento ao golpismo político ou a chantagem econômica e aplicação de sanções unilaterais e ilegais, que buscam impedir os povos de exercer plenamente sua soberania. Os governos latino-americanos como da Venezuela, Bolívia, Colombia, Nicarágua e outros que enfrentam ameaças de intervenção constantes e são objeto de sanções econômicas do imperialismo americano tem nos BRICS uma perspectiva de apoio a sua resistência anti-imperialista. Da mesma forma, os países africanos que necessitam avançar nos seus processos de independência contra as formas de colonialismo tradicional, inclusive com presença forçada de bases militares imperialistas, terão nos BRICS a possibilidade de uma articulação e apoio econômico na defesa de sua independência política e seu desenvolvimento nacional.

A luta anti-imperialista, na qual se insere também a luta contra o genocídio do povo palestino pelo regime sionista de Israel apoiado militarmente e financeiramente pelo império americano, certamente terá neste novo contexto geopolítico global um novo e importante impulso. A luta anti-imperialista será mais um fator de aprofundamento da crise estrutural do sistema capitalista.

Os grandes conflitos e movimentações políticas do cenário internacional atual tem como base a crise estrutural do sistema capitalista. As expressões mais visíveis da crise estrutural são as gigantescas dívidas dos estados. Segundo dados disponíveis indicam que a dívida global chegou a 324 trilhões de dólares em 2024 (CNNMoney em 06/05/2025, dados do Instituto de Finanças Internacionais).

Entre os países ricos a relação dívida/PIB chega a percentuais que mostram uma situação de descontrole completo (https://www.focus-economics.com/blog/countries-with-the-most-public-debt/ em 10 de março de 2025):

Japão: 242%

Grécia: 149%

Itália: 138%

EUA: 124%

França: 116%

A dívida americana, como mostra o gráfico abaixo, passou de 18 (dezoito) trilhões de dólares em 2015 para nada menos que 36 (trinta e seis) trilhões em 2025. Ou seja, simplesmente dobrou no período dos dez últimos anos.

Este endividamento impacta de forma cada vez mais aguda os orçamentos públicos com a transferência de percentuais cada vez mais significativos dos recursos públicos aos credores. Em alguns casos, os gastos com o serviço da dívida chega a comprometer em torno de 50% do orçamento público de um país, o que compromete decisivamente os gastos sociais e os investimentos governamentais em infraestrutura e desenvolvimento científico e tecnológico. Saúde, educação e assistência social têm suas rubricas no orçamento comprimidos com os altos valores do custeio da dívida.

O endividamento, considerado tanto o endividamento público como privado é a expressão atual da extraordinária crise de superprodução. O endividamento encobre a crise de superprodução. É a forma como os governos que administram a sociedade capitalista vêm conseguindo manter um nível de consumo e produção de bens artificialmente que não deixa transparecer a crise subjacente. No entanto, não havendo o gigantesco endividamento público e privado a superprodução ficaria escancarada e seria imposta uma drástica redução da produção com redução dos empregos.

A crise é estrutural

A anarquia da produção capitalista não desapareceu com os métodos modernos de planejamento, como alegam muitos teóricos defensores das idéias liberais. Ao contrário, o planejamento da produção não está orientado para as reais necessidades da maioria da população, mas para a busca do lucro das corporações privadas. A indústria automobilística é uma das maiores expressões deste planejamento distorcido para o lucro privado; em lugar de investir essencialmente no transporte público de massas, o investimento privado se orienta para a produção e o consumo de veículos de transporte pessoal, o que entulha as ruas das cidades, promove a poluição e destrói o ambiente pelo consumo excessivo de energias fósseis. Da mesma forma, a produção de quinquilharias que entulham as casas das classes médias de produtos sem necessidade.

O nível de desenvolvimento alcançado pelas forças produtivas, especialmente nos últimos 60 (sessenta) anos com a aplicação industrial dos avanços da revolução científica e tecnológica com um salto gigantesco na automação e robotização, há muito superou os limites estreitos das relações de produção capitalistas baseadas na propriedade privada dos meios de produção. Ao mesmo tempo, o modelo da chamada sociedade de consumo, apoiada no consumo das classes proprietárias e classes médias privilegiadas dos países centrais do sistema capitalista mantém a maioria da população mundial, especialmente na América Latina, Ásia e África, na miséria e no subconsumo de produtos essenciais. O modelo de globalização imperialista apenas ampliou esta realidade e permitiu uma acumulação extraordinária de riquezas nas mãos de algumas centenas de corporações e grupos de donos de capital.

A crise de superprodução já alcançou todo o mercado mundial e acirra a concorrência pelo controle de mercados. Excetuados os alimentos, a China hoje tem uma capacidade de produção com capacidade para atender às necessidades de consumo de todo o planeta. Esta capacidade de produção industrial da China concorre com os países centrais do sistema capitalista e ameaça a sua hegemonia. O desespero do governo americano não deixa dúvidas sobre isso. E não se trata só de produtos de baixo valor agregado, mas também produtos de alta tecnologia.

Neste contexto, o governo Trump representa uma tentativa de evitar o colapso da economia americana, com seus déficits comerciais e orçamento em crescimento incontrolável. A guerra comercial dos EUA com o resto do mundo, incluindo não só a China, concorrente comercial mais ameaçador, mas também com a Europa, o Japão, o Canadá e México, levada a cabo no momento com a imposição de tarifas de importação é uma tentativa desesperada de reverter os gigantescos déficits comerciais e a perda da hegemonia econômica dos EUA. E uma tentativa de reverter o processo de desindustrialização americana no contexto do processo de globalização econômica liderada pelos próprios EUA e a perda da hegemonia no mercado mundial.  

Mas, a lógica que rege o funcionamento da economia global conduzirá não ao alcance dos objetivos do governo Trump, mas a uma crise ainda mais profunda com a paralização da produção restante nos EUA devido ao encarecimento dos materiais e componente e a uma inevitável fuga dos investidores estrangeiros que tenderão a se desfazer de ativos em dólares. E, em consequência desencadearão um processo inflacionário e a quebras no setor de comércio que não disporão de produtos de consumo baratos para os consumidores. Além, naturalmente, de empurrar os principais países integrados ao sistema de produção coordenado pelo capital americano a crises inflacionárias e à depressão.

A tentativa da União Européia de negociar alternativas para o comércio e relações com a China, que buscavam cercear em sua penetração na Europa, já é uma expressão do desespero gerado pela política protecionista e a guerra comercial em imposta pelo governo dos EUA.

As perspectivas econômicas para os próximos anos são de um aprofundamento cada vez maior da crise estrutural do capitalismo. Na tentativa de salvar os EUA, o governo Trump descarrega o peso de sua crise nos demais países. A Europa e o Japão terão que reformular sua política estratégica, mas só terão alguma possibilidade de algum êxito em caso de reversão de sua política de guerra com a Rússia. Sem o mercado e os recursos naturais e energéticos baratos da Rússia a Europa fatalmente afundará na crise econômica, social e política. Ao mesmo tempo, os avanços da China sobre o mercado consumidor europeu, assim como o estrondoso desenvolvimento de novas tecnologias, levará à China a não deixar muitos espaços para uma retomada em grande escala da produção industrial dos países europeus. Simplesmente não há espaço no mercado mundial atual, estruturado no modelo capitalista da propriedade privada e o lucro privado, para a continuidade do modelo de produção baseado nas grandes corporações industriais imperialistas. A livre concorrência já deixou de existir, substituída pela chantagem e o terrorismo econômico dos estados (sanções, imposições tarifárias, guerra cibernética e até simples atos terroristas como a destruição de gasodutos) que, como sempre na história, derivaram para as soluções baseadas na força militar, na guerra e na destruição massiva de forças produtivas. 

As tendências principais, portanto, para o próximo período, de aprofundamento das crises nos EUA e na Europa, levará a um novo período de intensificação da luta de classes internamente a estes países, e a crescentes ameaças de guerra entre as potências. Os EUA ameaçados de perder terreno no campo comercial e tecnológico em relação à China não deixará de tentar pela força militar impedir o seu declínio definitivo como império dominante. Os riscos de um conflito militar com a China serão cada vez maiores, à medida que a crise se aprofunde e sem perspectivas de reversão.

A Europa, por seu turno, em caso de manutenção de suas políticas atuais em relação ao conflito ucraniano e, a continuidade pelo caminho do rearmamento massivo com a busca de um confronto militar direto com a Rússia proposto por alguns países, estará caminhando para uma resistência das classes assalariadas e o ressurgimento de uma perspectiva revolucionária, ou para sua destruição completa.

No contexto do aprofundamento da crise, provocada pelas políticas protecionistas desesperadas dos países imperialistas, especialmente com o crescente desespero de setores de classes médias e o desemprego estrutural. estará, de fato, montada a antessala para o totalitarismo de tipo facista e a preparação do inevitável confronto militar que historicamente tem sido a perspectiva para a solução da crise capitalista, com a destruição massiva de forças produtivas e, o risco de destruição completa da civilização humana.

A BARBÁRIE do capitalismo decadente ou o SOCIALISMO, eis o que temos que enfrentar pela frente nos próximos anos. A superação da crise de direção revolucionária é a tarefa histórica da qual depende o desfecho do processo.

Maio de 2025.

  • Teve sua inicialização política no movimento estudantil secundarista na resistência à ditadura, no interior do Rio Grande do Sul. Após mudança para o Rio de Janeiro e trabalhando na indústria aproximou-se das lutas operárias e suas conexões políticas. Dado o contexto repressivo da época decidiu sair do país para estudos na União Soviética. A experiência de vida sob o regime soviético, combinado com o fracasso da “via pacífica ao socialismo” e a tragédia do golpe no Chile, estimularam a busca por novas alternativas de esquerda. Aderiu ao movimento trotskista internacional durante o trabalho entre os exiliados latino-americanos na Europa e participou da fundação da Liga Socialista na Suécia, filiada à LIT-QI. Após a volta ao Brasil, integrou a direção da Convergência Socialista e foi membro do Diretório do PT de Diadema/SP.

  • Exilado por 8 anos na época da ditadura. Por três anos viveu no Chile de Salvador Alende, onde foi preso e torturado. Foi um dos fundadores da Convergência Socialista em 1978, e participou do movimento pró-PT, em 1979. Em 2003, participou da fundação do Psol