A guerra tarifária implementada pelo governo Trump evidencia uma crise no interior do imperialismo norte americano, como a “briga de rinha” entre os oligarcas Trump x Musk tem demonstrado. Também evidencia a incapacidade da ultradireita e do imperialismo ianque, em nível internacional de salvar o capitalismo ocidental.
Em nosso país, o fracassado golpe de 8 de janeiro, colocou o bolsonarismo na defensiva, aprofundada pela fuga de Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, além da provável prisão de generais. Mas se o governo Lula seguir cedendo ao rentismo e aplicando medidas antipovo, vai manter a direita como um todo viva. Esta, hoje, vai driblando a crise como em uma corrida de revezamento. Bolsonaro “cansa” e será substituído por Tarcísio, Ratinho ou ainda Leite – candidato da Globo.
O QUE A ESQUERDA CONSEQUENTE DEVE FAZER? Seguir sendo aliada menor de um governo que sobrevive por “aparelhos” ou se apresentar no primeiro turno, acumulando forças e manter uma alternativa para um Brasil que não pode seguir sendo eternamente país do futuro? Queremos ser o Brasil do presente!
A história já mostrou para onde nos leva a entreguista elite brasileira.
BESTIALIZADOS. Assim foi como o jornalista Aristides Lobo caracterizou a reação popular diante da forma como se proclamou a República no Brasil. Fazia sentido. Tratava-se de mais um momento de mudança radical de rumos que as classes dominantes impunham ao país, sem que tal mudança sentisse presença de ruptura insurrecional popular.
Bestializados, pode-se afirmar, é o que parece marcar o sentimento do povo trabalhador brasileiro diante de um próximo momento decisivo para seu destino – a campanha presidencial de 2026 -, diante da forma como o processo vem sendo conduzido pelas cúpulas partidárias de um cenário supostamente polarizado, mas que de polarizado nada tem no essencial. Há, na verdade, uma disputa de métodos na condução da mesma política centrada nos interesses do rentismo e do agronegócio – uma parte da burguesia, e sua vulnerável classe média, para além de amplos segmentos militares e das polícias, optando pelo autoritarismo repressivo. Com a outra ponta, dividida entre as formas mais suaves de controle social no atendimento das exigências do insaciável “mercado”.
Cenário, portanto, absolutamente favorável aos segmentos mais radicais do negacionismo democrático, por, assumirem eles, a radicalidade rupturista “contra tudo isso que está aí”, por conta da forma leviana como as principais expressões reconhecidas como do campo de uma esquerda supostamente socialista se entregam passivamente a políticas moderadoras, sempre sob os ditames das classes dominantes.
Sim, é expressiva a responsabilidade dos que, a partir de 2003, com a chegada ao Planalto, brecaram esperanças prometidas de rompimento com a herança nefasta do neoliberalismo tardio que nos assolou em toda a década de 1990.
LULA chegava ao governo com apoio popular intenso. A massa que ocupou a Esplanada dos Ministérios no dia da posse correspondia à que o PT, e seu braço sindical, a CUT, haviam mobilizado no combate radical à privataria do mandarinato tucano.
MAS QUAL O QUÊ…o transformismo que já assolava a cúpula lulista do PT desde a derrota na eleição dada como certa na campanha de 1994 se impunha sem peias. Resolução, aliás, que revelou um dos mais enfáticos e incisivos documentos de denúncia contra o governo FHC e que apresenta, no desdobramento dessas denúncias uma proposta radical: “II – DERROTAR O NEOLIBERALISMO E CONSTRUIR UM NOVO GOVERNO DEMOCRÁTICO E POPULAR”.
O que ocorre, como desdobramento, com o movimento político-social que vinha de um largo período de ação organizada, com mobilizações e ocupações da Esplanada dos Ministérios? Imobiliza-se.
Mas o que fez o governo Lula na tomada das primeiras decisões? Convocou o “companheiro” Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central, conferindo-lhe autonomia que esse BC só viria a ter por lei em 2021. Como consequência dessa nomeação inaceitável – Henrique Meirelles havia sido eleito deputado federal pelo PSDB, cargo ao qual renunciou certo de que acordos de Lula em Washington, geradores da famigerada Carta aos Brasileiros, o manteriam.
Formada a parceria sinistra, ao invés de desmontagem do modelo privatista e antissocial anterior, o governo não só manteve, como ampliou a política de submissão ao sistema financeiro privado, que havia implantado com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Mais grave ainda, dá concretude a essa rendição implantando os primeiros passos – em ataque aos servidores – da contrarreforma da Seguridade Social universalizada no governo golpista de Michel Temer.
O que ocorre, como desdobramento, com o movimento político-social que vinha de um largo período de ação organizada, com mobilizações e ocupações da Esplanada dos Ministérios? Imobiliza-se. Bestializa-se. E daí aos dias atuais, é água ladeira abaixo. Ou fogo montanha acima. Numa sequência que pode ser bem simbolizada nesse trecho de matéria no portal da bancada do PT no Senado, ao festejar, em 2015, a venda de 29 usinas hidroelétricas sob controle público: defendendo as exigências:
“O leilão das 29 usinas garantiu o pagamento de R$ 17 bilhões em bônus pelas empresas. Esse valor será destinado ao Tesouro Nacional e contribuirá para o esforço do governo no equilíbrio das contas públicas…”.
Hoje segue a política de uma no cravo e outra na ferradura. A taxa de juros que tanto Lula bravejou contra, quando Campos Neto esteve na Presidência do Banco Central, sumiu com seu apadrinhado Gabriel Galípolo, que elevou os juros aos maiores do mundo. Ataque brutal aos trabalhadores dos Correios, não cumprimento do acordo de greve dos servidores, cortes nas verbas públicas, preço dos alimentos básicos nas alturas. Diante disso as medidas do “bem” desaparecem. Isenção das tarifas de energia elétrica para famílias de baixa renda, isenção de Imposto de Renda para rendas até R$ 5 mil para o próximo ano, cotas nos serviços públicos.
Aglutinar na tensão sobre o governo federal para que, no mínimo, cumpra as promessas de campanha, que justificaram o apoio do PSOL no primeiro turno das presidenciais de 2022
Nesse contexto, o que cabe à esquerda combativa como forma de recuperar o ânimo de resistência? Sobretudo se aglutinar na tensão sobre o governo federal para que, no mínimo, cumpra as promessas de campanha, que justificaram o apoio do PSOL no primeiro turno das presidenciais de 2022. Ajuste Social no lugar de Ajuste Fiscal, “Revogaço” das contra-reformas que liquidaram direitos sociais e a legislação trabalhista e Revisão da Privatização da Eletrobrás.
O PSOL estaria nessa linha de frente, coerente com a Resolução em que abriu mão, pela primeira vez, de uma candidatura presidencial no primeiro turno em 2022.
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Historiadora, Secretária Geral do PSOL Nacional
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Professor e membro da Executiva Nacional do PSOL.
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Membro do Diretório Nacional do PSOL e coordenador da Agência Alternativa Mídia e Gestão
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Jornalista, ex-deputado, fundador e membro da Direção Nacional do PSOL.