A gênese da Rede Sustentabilidade remonta ao “Movimento por uma Nova Política”, iniciado em 2011, que contava com figuras proeminentes como Heloísa Helena, senadora e ex-vereadora de Maceió, Marina Silva, senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Alfredo Sirkis, ex-deputado federal e ambientalista, Walter Feldman, ex-deputado federal e ex-secretário de estado em São Paulo, Ricardo Young, ex-vereador da cidade de São Paulo, Úrsula Vidal, jornalista e cineasta, e Pedro Ivo, ambientalista e coordenador da Carta da Terra. Este movimento visava promover uma renovação política pautada na sustentabilidade, transparência e participação cidadã, unindo apoiadores de diversos espectros políticos e sociais em busca de uma alternativa ao sistema partidário tradicional.
Em 2013, a tentativa de oficialização da Rede como partido foi frustrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que alegou insuficiência de assinaturas válidas. Como resultado, Marina Silva e os apoiadores do movimento se filiaram ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) e ao Partido Popular Socialista (PPS) para concorrer nas eleições de 2014. Apesar disso, o Movimento se manteve ativo, e em 2015, a Rede Sustentabilidade finalmente conquistou seu registro oficial como partido político. Esse período foi marcado por intensos debates sobre a urgência de uma nova forma de fazer política no Brasil, centrada na sustentabilidade e na ética pública.
Os erros de Marina
Marina Silva, figura emblemática do ambientalismo no Brasil, candidatou-se à presidência em três ocasiões. Em 2010, representando o Partido Verde (PV), obteve 19,33% dos votos válidos, terminando em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Em 2014, após a trágica morte de Eduardo Campos, assumiu a candidatura pelo PSB, chegou a liderar pesquisas, mas acabou em terceiro lugar novamente, com 21,32% dos votos válidos. Já em 2018, pela Rede Sustentabilidade, seu desempenho foi ainda mais modesto, com apenas 1% dos votos, ficando em oitavo lugar. Perder eleições é parte do jogo democrático. Uma derrota, em si, não define o curso de uma trajetória política; são os erros e acertos que moldam o destino de uma liderança pública. E, neste contexto, Marina cometeu erros significativos. O primeiro deles não ocorreu em 2010, quando, em um segundo turno dramático entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, optou por apoiar o tucano, sem consultar sua equipe de campanha. Posteriormente, sua adesão ao lavajatismo – um conluio que corroeu o Judiciário para fins políticos sob a liderança de Moro e Dallagnol – culminou em seu segundo erro fatal: o apoio ao impeachment de Dilma Rousseff, presidente legitimamente eleita. O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) não seguiu a orientação de Marina e votou contra o impeachment.
Capitalismo Verde X Ecossocialismo
Com o tempo, a Rede Sustentabilidade se dividiu em dois blocos. De um lado, o grupo liderado por Marina Silva, denominado Rede Vive, que flerta com o “capitalismo verde”. Do outro, o grupo capitaneado por Heloísa Helena, batizado de “Rede pela Base”, que se aproxima do ecossocialismo defendido por Michel Löwy e do New Green Deal de Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez. Ambas as vertentes criticam o “capitalismo verde”, argumentando que ele perpetua a lógica do mercado e do lucro enquanto tenta mitigar a crise climática.
Os membros da Rede pela Base, como Heloísa Helena e Pedro Ivo, sustentam que a abordagem dos “ecologistas de mercado” não resolve as causas estruturais da degradação ambiental, pois continua a depender de um crescimento econômico baseado em combustíveis fósseis, concentração de renda e superexploração de recursos naturais. Pedro Ivo ressalta que o “capitalismo verde” oferece paliativos, como “compensação de carbono”, “inovação tecnológica” e “consumo equilibrado”, sem alterar as dinâmicas econômicas que levaram à crise climática. Para eles, o modelo se torna um paradoxo: busca mitigar os impactos ambientais sem desafiar o sistema que os gerou.
A Rede pela Base propõe uma alternativa para superar o “capitalismo verde”. Em vez de confiar no mercado para resolver a crise climática, defende um modelo de investimento público maciço em infraestrutura sustentável, energia renovável e pleno emprego, questionando a apropriação privada da riqueza social, que é o cerne do capitalismo. O papel ativo do Estado na transição para uma economia de baixo carbono é fundamental, assegurando que os benefícios sejam distribuídos de forma equitativa, em vez de concentrados nas grandes corporações. A curto prazo, a Base busca integrar as agendas econômica, social e ambiental, promovendo crescimento econômico sem comprometer o meio ambiente.
A virada no VI Congresso
A cobertura da imprensa sobre a perda de controle de Marina Silva na Rede Sustentabilidade durante um “congresso tenso” em Brasília refletiu o quanto as aparências enganam. Marina, que parecia a “grande liderança” do partido era, na verdade, a liderança da minoria. A chapa Rede pela Base, de Heloísa Helena, conquistou a vitória com 221 votos, representando 74% dos delegados presentes, enquanto a corrente apoiada por Marina Silva e Túlio Gadelha obteve apenas 79 votos (26%). O novo presidente do partido, Paulo Lamac, engenheiro e ex-vice-prefeito de Belo Horizonte (MG), chega ao cargo com o apoio declarado de Heloísa Helena e a promessa de unificar a legenda, já deixando claro que uma inflexão política está em curso. “É hora de reencontrar o povo e reoxigenar nossas bandeiras”, afirmou Lamac em seu discurso de posse. A Rede agora se encontra em uma nova configuração, federalizada com o PSOL, partido anteriormente associado a Heloísa Helena.
A derrota de Marina Silva representa um abalo em sua liderança política, mesmo que ela ainda ocupe uma cadeira como ministra no governo Lula. Sua tentativa frustrada de manter o controle da sigla surpreendeu alguns, mas não aos observadores da vida interna do partido. A rejeição à sua liderança, amplamente sentida entre os militantes e dirigentes no congresso, evidencia sua desconexão com os novos tempos e sua inabilidade política para a disputa interna. O uso de ataques na imprensa, o abuso da litigância de má fé e a tentativa de desqualificar as decisões do congresso e macular os dirigentes majoritários demonstra uma postura autoritária e de desrespeito às instâncias e aos ritos internos do partido. Analistas reconhecem o resultado como uma reação da base contra o distanciamento de Marina das pautas populares e da articulação com as bases sociais que sustentam o dia a dia do partido.
O VI Congresso da Rede sinaliza o início de um novo tempo, onde o verde da luta ambiental e o vermelho da luta social se entrelaçam em uma única bandeira.
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Porta-voz da Rede Sustentabilidade no Pará
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Porta-voz da Rede Sustentabilidade em Belém