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Derrotar a extrema direita passa por um enfrentamento consequente contra o imperialismo e sua política neoliberal

Esta reflexão é feita no mesmo momento em que o STF inicia o julgamento de Bolsonaro, ministros e militares de alta patente, pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Trata-se de um marco histórico: pela primeira vez, os responsáveis por articular um ataque direto às poucas liberdades democráticas que conquistamos estão sendo confrontados. Isso não é pouco. É o resultado de décadas de luta do povo trabalhador e dos movimentos sociais que nunca aceitaram a impunidade como regra.

A direita, em suas diversas variantes, segue agindo de forma articulada. Já testa alternativas eleitorais, busca novos porta-vozes e não recua em seu projeto autoritário e neoliberal. Mas o que se abre diante de nós hoje é uma novidade: os generais, ministros e o próprio ex-presidente, que sempre gozaram de intocabilidade, finalmente estão sendo julgados. Esse processo rompe com a tradição de impunidade e silêncio que marcou a ditadura empresarial-militar e que destroçou as organizações de esquerda, sequestrou, torturou e executou muitos quadros políticos.

A vitória do campo popular em 2022 criou as condições políticas para que a justiça pudesse avançar contra os golpistas. É preciso intensificar a denúncia de como os golpistas estão articulados com a classe dominante, em especial com os últimos escândalos envolvendo facções e o mercado financeiro. E pressionar o campo popular para que rompa com a política de austeridade que ataca o povo, causa sofrimento e abre espaço para que o oportunismo da extrema direita se articule.

Mesmo antes de tomar posse, o governo Lula já era questionado pelas forças reacionárias. O 12 de dezembro de 2022, em Brasília, os acampamentos em frente aos quartéis, etc., foram recados dos golpistas de que o Brasil não voltaria à “normalidade”. A polarização, as mentiras nas redes sociais e a chantagem são métodos utilizados por todas as forças neofascistas, ao redor do mundo. Num primeiro momento, a extrema direita focou suas armas contra as urnas eletrônicas e, na sequência, contra o próprio Poder Judiciário. A retórica conciliatória e a prática da negociação permanente do Governo Lula têm limites claros.

Mas o julgamento de Bolsonaro e seus generais expõe, com toda a força, que a direita não é invencível e que o campo da direita tradicional e do patronato se dividiu ao ver que as articulações do bolsonarismo, com o governo Trump, trouxeram prejuízos imensos para o setor exportador que tinha o mercado dos EUA como destino.

O Governo Lula respondeu bem ao tarifaço de Trump, apesar de exagerada cautela. A exigência que Trump faz ao Supremo Tribunal Federal de inocentar Bolsonaro, e a utilização da Lei Magnitsky contra Ministros brasileiros, estimulou o sentimento de partes importantes da população brasileira em defesa da soberania nacional. Ao mesmo tempo, enfraqueceu o bolsonarismo ao identificá-lo como traidor da Pátria.

O bolsonarismo tenta se reorganizar sob novas lideranças — Tarcísio, Malafaia, Nikolas, Michele e outros. É um movimento de características neofascistas, que expressa o ódio de classe e o ressentimento social. No entanto, sua vitalidade revela também uma fragilidade: não têm projeto econômico próprio; seu projeto é o projeto do andar de cima, apenas aprofunda o neoliberalismo parasitário. E, cada vez mais, comprometido com os interesses do capital imperialista internacional.

Cabe à esquerda radical disputar o “contra tudo isso que está aí” — bandeira que nasceu nas lutas populares e que a extrema direita sequestrou.

O julgamento é uma chance de recuperar esse discurso para o campo dos trabalhadores, mostrando que o verdadeiro “contra tudo isso” é contra o rentismo, o agronegócio e a entrega da soberania nacional.

A luta contra a extrema direita no Brasil é uma luta por soberania popular. Está diretamente vinculada com a luta por soberania nacional contra o imperialismo ocidental e a urgência de um projeto de integração democrática do continente sul-americano. Nesse sentido, a política de aproximação com o BRICS e a desdolarização das transações comerciais e financeiras são fundamentais.

Não esqueçamos: o Brasil já demonstrou sua capacidade de resistência, em outros momentos. Foi a força militante nas ruas, a CUT no espaço urbano, o MST no campo, e tantos movimentos populares que derrotaram o regime militar e conquistaram direitos. Essa energia não desapareceu. Ela pode renascer, agora, em torno de pautas que atualizam o projeto de transformação: monopólio estatal sobre terras raras, reestatização da Eletrobras, reforma agrária popular, retomada do controle público real da Petrobras, regulação do sistema financeiro e soberania popular sobre nossos recursos estratégicos.

É justamente isso que nos cabe, como corrente combativa do PSOL: transformar esse momento em alavanca para a reorganização da esquerda radical.

Utilizando os mandatos parlamentares, como o de Glauber Braga, como trincheiras de resistência classista. Mas é na mobilização popular, nas ruas, nas fábricas e nos campos, que podemos dar consequência a este julgamento histórico, convertendo-o em ponto de partida para uma nova ofensiva.

  • Membro do Diretório Nacional do PSOL e coordenador da Agência Alternativa Mídia e Gestão

  • Historiadora, Secretária Geral do PSOL Nacional

  • Professor e membro da Executiva Nacional do PSOL.

  • Jornalista, ex-deputado, fundador e membro da Direção Nacional do PSOL.