1) O PSOL continua sendo um instrumento fundamental da luta política brasileira e uma ferramenta útil para os revolucionários. A posição do partido diante da PEC da Bandidagem, repercutida por suas figuras públicas, foi um fator importante para revoltar setores da classe trabalhadora e provocar um dos maiores atos políticos de esquerda dos últimos anos. Isso reforça a ideia de que uma força de esquerda com expressão política real, atuando à esquerda do governo, pode exercer papel fundamental na luta social do país.
2) Diante das denúncias insistentes de parlamentares mais radicalizados — do conjunto do PSOL e de alguns setores ainda combativos do PT e do PCdoB — o campo progressista foi obrigado a reforçar a denúncia, o que ajudou a mobilização a ganhar audiência de massa.
3) Os parlamentares petistas que votaram pela PEC da bandidagem não são expressão de indisciplina partidária; ao contrário, representam a máxima expressão da disciplina de um acordo que o governo tentou costurar com o centrão diante da possibilidade de anistia. Isso não é segredo: todos eles declararam publicamente que atuavam a serviço desse acordo.
4) A luta contra a corrente neofascista no Brasil — o bolsonarismo — tem força social real. Uma parcela significativa da vanguarda ampliada viu, na contradição entre o discurso da extrema direita e a defesa da PEC da Bandidagem, uma oportunidade histórica para pressionar o bolsonarismo, e assim o fez, acertadamente, independentemente do dano que isso pudesse causar aos acordos do governo.
5) O método de acordos de gabinete, que deixa o povo fora da equação da luta política e desconsidera permanentemente a importância da mobilização popular, foi derrotado pelo povo. Diante da indignação com a PEC da Bandidagem, a população desmontou o acordo do governo com o centrão, que ameaçava pautar a PEC da Anistia. Ao final, ficou evidente que a anistia aos bandidos bolsonaristas só poderá ser barrada nas ruas, com manifestações de massa.
6) Apesar do tom crítico ao petismo presente em muitos momentos das manifestações, é nítido que Lula continua sendo o candidato da esmagadora maioria dos presentes, e o apoio crítico — com cobranças políticas mais duras — começa a ganhar expressão.
7) Cabe agora às forças de esquerda pressionar as direções do campo progressista para pensar em como manter e ampliar a mobilização, aquecer cada vez mais a luta social e barrar a tendência da direção petista de usar a correlação de forças conquistada nas ruas para retornar às negociatas de gabinete, excluindo novamente o povo do cálculo da luta política. É preciso cobrar do conjunto do campo popular e do governo o cumprimento das promessas da campanha vitoriosa que derrotou Bolsonaro em 2022, pois o programa que o povo elegeu segue sendo sistematicamente desrespeitado.
8) O fascismo é um fenômeno político que só pode ser derrotado com programa político e mobilização popular permanente. Qualquer negligência em relação a esses dois fatores é uma negligência com a luta antifascista.
Foto: Zanone Fraissat / Folhapress
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Professor e membro da Executiva Nacional do PSOL.