O progressismo rosa é insuficiente para enfrentar a extrema direita.
No último artigo sobre a situação política da Venezuela, levantamos 4 pontos que na nossa opinião separam a esquerda, entre os que defendem as posições do governo venezuelano, dos que são contrários.
Não estamos tratando da mídia corporativa manipuladora, nem dos governos pró-imperialista do Ocidente. Estamos falando dos setores da esquerda e dos progressistas, que tratam a democracia burguesa como um fim em si mesma.
Parte importante dos argumentos desses setores críticos às posições da Venezuela, não levam em conta o papel do imperialismo norte-americano e europeu, sobre os destinos dos demais países. E ao não fazer isso, também não debatem a importância da autodeterminação das nações “dependentes” ou “semicoloniais”.
A Venezuela tem muitos problemas, mas problemas de quem escolheu o caminho de defender a soberania nacional, enfrentando os poderes internacionais.
Feito essa observação, queremos retomar os dois primeiros pontos que tratamos na edição anterior da revista Linha Vermelha. A saber: uma revolução no regime democrático burguês e sobre o bonapartismo sui generis, à luz dos processos eleitorais que ocorreram nesse último período.
O voto é obrigatório na Argentina e no Brasil, diferente do que acontece na Venezuela. No último processo eleitoral municipal da Argentina, 47% do eleitorado não foi votar e o candidato de Milei ganhou as eleições em Buenos Aires, com 30% dos votos do total dos votantes. O segundo colocado foi o candidato dito de “centro esquerda”, Leandro Santoro, que alcançou 27,35% e, em terceiro lugar, com 15,93%, foi o candidato da direita tradicional neoliberal. A esquerda socialista reduziu seu tamanho em meio a uma guerra de classes promovida por Milei, contra os direitos de todos os trabalhadores e aposentados. Em seis meses de governo, Milei já enfrentou 3 greves gerais e mobilizações de rua dos aposentados, que ganharam apoio da população, contra a repressão do governo. Milei é um neofascista, que se reivindica anarcocapitalista. Leandro Santoro, que podemos caracterizar como social-liberal e a direita tradicional, que ficou em terceiro lugar, é neoliberal, com um projeto muito parecido com o de Milei. Por isso mesmo, perdeu força eleitoral, por não ter diferença com o projeto do governo federal.
Mas o foco que queremos tratar aqui é sobre a obrigatoriedade do voto, a crise econômica e a abstenção altíssima. Parte importante da abstenção está diretamente relacionada ao desânimo de parte da população, que não vê saída para sua situação através do voto. O voto no presidente Milei já foi um voto de protesto, um voto de amplos setores indignados com as diversas tendências peronistas, e com os demais partidos tradicionais da burguesia, que não têm projeto de transformação. Ao mesmo tempo, o eleitorado abandonou a esquerda, que não consegue apresentar uma saída para os problemas reais, nem um projeto de superação do sistema capitalista. O discurso radical de Milei e de seus aliados, com apelo à “liberdade” total e antissocial, empalma com a indignação das massas empobrecidas e de setores da classe média.
A outra comparação é com as abstenções nos processos eleitorais no Brasil. Aqui o voto também é obrigatório e nas últimas eleições de 2024, mais de 11 milhões de brasileiros não compareceram às urnas. Isso é 29,53% de eleitores que deixaram de participar do processo. Os especialistas tentam justificar o alto grau de abstenções, mesmo num processo obrigatório, pelo baixo nível de escolaridade e de renda, mas essas avaliações são superficiais.
O determinante é a política. O regime democrático burguês está em crise, ele não responde aos anseios, nem às necessidades objetivas da população. As instituições estão cheias de representantes burgueses neoliberais e/ou neofascistas. Onde tem representantes da esquerda, esses não são coerentes na luta Contra o capitalismo e sua contra revolução econômica. No limite, na oposição a esquerda e os reformistas denunciam as injustiças, mas ao chegar no governo seguem aplicando o mesmo projeto neoliberal. Isso aconteceu com o Bloco de Esquerda e os social-democratas em Portugal e eles perderam espaço institucional mais uma vez nas últimas eleições. O caso brasileiro é o mais sintomático, porque Bolsonaro, que é um neofascista e negacionista, perdeu as eleições presidenciais. Mas a extrema direita cresceu em todas as instituições do Estado. Por quê? As pessoas progressistas votam em Lula, mas não acreditam que ele possa mudar a vidas delas. No limite, votam para derrotar a extrema direita neofascista. Os reformistas ligados ao lulismo, não têm um projeto de transformação social. Se adaptaram ao jogo político e ao calendário eleitoral.
Voltemos ao objetivo central desse artigo. Que é mostrar que na Venezuela houve uma revolução no regime democrático burguês. Que acabou com o Senado e aprofundou a democracia direta através de um processo constituinte que envolveu amplos setores da população e, isso fez com que parte substancial do povo se sentisse parte do projeto de Nação. No último dia 25 de maio, ocorreram eleições na Venezuela. 42,63% da população participou ativamente do processo, mesmo tendo setores da direita golpistas chamando a população a boicotar o processo eleitoral. É importante salientar que na Venezuela o voto não é obrigatório. Como afirmamos acima, o que determina a participação ou não das pessoas nos processos eleitorais é a política. A compreensão de que votar pode ou não mudar suas vidas.
No caso da Venezuela, o Chavismo foi a expressão de uma mudança radical no regime e de uma postura altiva do Comandante Chávez no enfrentamento com o imperialismo ianque e a burguesia venezuelana, que sempre parasitou na renda do petróleo.
Nesses últimos 25 anos, o povo venezuelano foi chamado a decidir os rumos do país, através do voto em 32 eleições, plebiscitos e referendos. Foi um processo de polarização e definições que fizeram com que a população se sentisse protagonista das mudanças de verdade. Chávez e depois o presidente Maduro, se apoiaram nas massas populares, para garantir a segunda independência da Nação. Romperam com a oligarquia corrupta e enfrentaram uma verdadeira guerra. Sofreram diversas tentativas de golpes, bloqueio econômico e financeiro e, sanções contra os representantes legítimos do governo. Além de enfrentar uma campanha mentirosa da mídia corporativa internacional de que a Venezuela vive uma ditadura. Chegaram a quase o limite da fome, mas resistiram e estão aprofundando a democracia participativa, através das comunas e das missões, onde a população define parte do orçamento federal. A extrema direita no mundo, sempre questionou os resultados eleitorais, quando não os beneficia. Vide Trump e Bolsonaro. Não foi diferente na Venezuela. A extrema direita não reconheceu os resultados e chegou ao limite de pedir intervenção militar dos EUA, nos assuntos internos da República Bolivariana da Venezuela.

O que difere o processo amplo de participação eleitoral da Venezuela, com seus 82% de votos na Frente governista, Gran Polo Patriótico “Simón Bolívar”, do processo eleitoral da Argentina, do Brasil e até mesmo, o de Portugal, como exemplos de eleições que ocorreram há poucos dias ou meses, é que, na Venezuela ocorreu uma revolução no regime, que se apoiou nos anseios das massas.
O governo bolivariano fez concessões aos trabalhadores e ao povo pobre, ao mesmo tempo que recebeu apoio popular, se fortalecendo para enfrentar a oligarquia nacional e o imperialismo, para garantir um grau de independência e soberania nacional.
Nos outros casos, as forças ditas progressistas estão acomodadas. Não acreditam na mobilização social, nem numa política independente, sequer passa na cabeça desse campo um enfrentamento real com o imperialismo.
Enquanto isso, a Venezuela segue se “reinventando”, escrevendo seu futuro nas urnas e nas ruas. São 25 anos de Chavismo e 32 processos eleitorais, onde o chavismo perdeu somente em 2 e respeitou o resultado. A direita golpista nunca aceitou suas derrotas. Esse é um método da onda neofascista mundial.
Foto: Reprodução
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Coordenação Nacional do Fortalecer o PSOL